O Director do Instituto Confúcio de Lisboa, Wang Jincheng, considera que o ensino da língua chinesa em Portugal está a viver a melhor fase da história. “Nos últimos dez anos, o ensino desta língua [chinesa] tem crescido abruptamente e são cada vez mais as instituições que adoptam o ensino do mandarim, língua oficial chinesa”.
Wang Jincheng foi o orador convidado da 4ª Sessão dos Encontros de Estudos Sobre a China, que decorreu nas instalações do ISCTE-IUL, numa iniciativa conjunta do Centro de Investigação de Estudos de Sociologia (CIES) e Centro de Estudos Internacionais (CEI), com coordenação de Sofia Gaspar, Cátia Miriam Costa e Thais França.
Numa apresentação próxima e interactiva junto do público presente, esta sessão, sob o mote “Chinese Language teaching in Portugal” pretendeu dar a conhecer quais as instituições que ensinam o mandarim e que motivações existem por quem procura aprender esta língua.
Foi nesse sentido que Wang Jingcheng, recorrendo às suas próprias experiências, encarou o papel de orador.
Jingcheng afirma que em Portugal o aumento do ensino da língua chinesa é o reflexo das ligações entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Portugal e China são cada vez mais próximos e o desenvolvimento da relação entre ambos reflete-se, em parte, no ensino da língua chinesa.
Para melhor enquadrar o momento em que o ensino do mandarim vive atualmente, o orador divide o desenvolvimento do ensino da língua em dois períodos: entre 1979 a 2000 e entre 2000 até ao presente.
“Em 1979, começou-se a leccionar no Instituto Confúcio de Lisboa o ensino da língua chinesa. Nessa altura, a procura era pouca e o ensino era restrito.
No ano seguinte, o curso foi aberto já a todos os interessados, ainda assim a procura ainda era pouca e foram essencialmente os jovens portugueses que estudavam estudos orientais ou asiáticos nas universidades que se inscreviam”, conta.
Em 2000, a situação muda e dá-se o boom desse ensino em Portugal. Abrem-se novos Institutos Confúcio em vários pontos do país – 2007 em Braga, 2008 em Coimbra – e algumas escolas/universidades abrem vagas para cursos de ensino de mandarim por vários níveis – iniciante, intermédio e avançado.
Desde 2010 existem cinco Institutos Confúcio no país e estima-se que anualmente mais de seis mil alunos se inscrevem nos diversos programas que os vários institutos oferecem.
Além dos institutos, o orador afirma que algumas instituições de ensino superior – em Aveiro, Minho, Leiria, Évora, Setúbal, Algarve e Madeira – dispõem de programas anuais para a aprendizagem da língua e oferecem a oportunidade de estagiar durante um semestre na China, ao abrigo de uma bolsa de estudo.
Embora esses cursos ofereçam bases suficientes para entender a língua chinesa, para Wang Jingcheng não são suficientes.
“A maioria dos cursos de ensino da língua chinesa têm a duração máxima de um ano” e o objetivo é conseguir com que os alunos consigam adquirir conhecimentos, não só na comunicação oral e escrita em mandarim.
“Um ano, dividido em duas vezes por semana, é muito pouco para compreender uma língua “normal”, quanto mais uma língua tão diferente à portuguesa”.
Para Jingcheng, mais importante “que aprender os caracteres chineses é aprender a cultura, as vivências e os hábitos do povo chinês”, e isso só é feito através da compreensão da cultura e da mentalidade da comunidade chinesa. “Recomendo sempre aos meus alunos que após terminarem o curso vão para a China durante pelo menos um mês e que ponham em prática as bases que eles aprenderam. Só assim é que começam a dominar a língua”.
Antes de terminar esta análise, o director do Instituto Confúcio salientou um projeto que tem crescido nos últimos cinco anos – Projecto Piloto de Ensino de Mandarim. “O mesmo prevê a aprendizagem da língua e outras áreas de intervenção, nomeadamente o contacto com a cultura.
Nesse âmbito, foram celebrados no ano lectivo anterior protocolos de geminação e intercâmbio escolar entre cinco escolas do Projecto-Piloto e escolas secundárias da Região Administrativa Especial de Macau”.
Neste ano lectivo, este projeto é leccionado, para além das escolas secundárias, em instituições de ensino profissional, sendo ao todo 13 as escolas que englobam o projeto, mais quatro que no ano anterior.
No estudo realizado pelo próprio, para este ano os alunos que integram este projeto “dividem-se em 13 escolas de rede públicas portuguesas. 290 no 10º ano, 118 no 11º e 12 no 12º e 73 no ensino profissional. Quanto aos docentes, passaram de 10 para 12”.
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Num questionário elaborado durante o ano lectivo anterior aos alunos inscritos nos Institutos Confúcio do país, concluiu-se que o desejo em conhecer a língua e a cultura chinesa, e a vontade em desenvolver ligações com a China são as principais motivações.
“Muitos dos alunos que frequentam estes cursos estudam ou já estudaram estudos asiáticos ou orientais nas universidades e procuram nos Institutos Confúcio a oportunidade de conseguirem comunicar na língua chinesa […] Os cursos de ensino superior ensinam toda a história e tudo o que está por detrás desta cultura milenar, nós [Institutos Confúcio] ensinamos a língua”.
Além deste, o questionário divide outros dois grupos, os curiosos e os profissionais.
Cada vez mais, há muitos curiosos que se inscrevem para desafiar-se a si mesmos. “Muitas pessoas continuam a achar que a aprendizagem do mandarim é extremamente difícil, mas desenganem-se. É preciso muito estudo, muita prática como qualquer outra língua, mas a meu ver é mais fácil porque ao ser uma escrita diferente faz com que as pessoas se apliquem mais e aprendam mais facilmente”.
Quanto aos profissionais, nomeadamente guias turísticos, inscrevem-se para abrir novos horizontes e obter mais oportunidades. “No caso dos guias turísticos, em Portugal, o turismo chinês é cada vez maior e dominar o mandarim é cada vez mais valorizado e procurado pelos grupos de turismo que visitam o país”.
A 5ª Sessão dos Encontros de Estudos Sobre a China realiza-se já no próximo mês, a 12 de Março, no ISCTE-IUL.