Maior consumo da classe média é oportunidade para empresas portuguesas

Pontos comuns na agenda económica entre Portugal e China e oportunidades de negócio para ambos os lados em destaque no arranque do encontro "40 anos de Cooperação entre Portugal e China", em Lisboa
consumo

Pontos comuns na agenda económica entre Portugal e China e oportunidades de negócio para ambos os lados em destaque no arranque do encontro “40 anos de Cooperação entre Portugal e China”, em Lisboa.

Paulo Portas colocou a defesa do multilateralismo e o combate ao isolacionismo no centro da agenda económica comum de Portugal e da China e Luís Castro Henriques sublinhou as oportunidades de negócio que se abrem para os dois países em geografias como África e América.

O arranque do encontro “40 anos de Cooperação entre Portugal e China”, esta manhã na Universidade de Lisboa, evidenciou ainda o bom momento das relações diplomáticas e económicas entre os dois países, destacando o papel de Macau no processo.

Apesar de este ano se celebrarem os 40 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China, todos os intervenientes do encontro fizeram questão de recuar ao século XVI e ao início dos contactos entre os dois países colocando em evidência a confiança mútua que marcam a longa relação bilateral, culminando no bem-sucedido processo de transição de Macau para a administração chinesa em 1999.

Outro ponto que reuniu consenso foi o reconhecimento da intensificação das relações, sobretudo económicas, nos anos mais recentes, fruto da “enorme mudança vivida na China que, no espaço de apenas uma geração se tornou na segunda maior economia mundial”, sublinhou o embaixador Freitas Ferraz.

O comércio entre Portugal e a China passou de 200 milhões de dólares em 1979, “passando o marco dos 100 milhões em 1993 e excedeu os 6 mil milhões de dólares em 2018”, assinalou Qu Weixi, vice-presidente da Academia Internacional de Cooperação Económica e Comercial do Ministério do Comércio chinês.

Numa outra vertente, a do investimento, “a pragmática cooperação entre os dois países produziu resultados frutíferos”, defendeu Tian Dewen, diretor-geral adjunto do Instituto de Estudos Europeus da Academia Chinesa de Ciências Sociais. “As empresas chinesas investiram mais de oito mil milhões de euros em Portugal em 2018 e as empresas portuguesas investiram na China mais de 200 milhões de euros em 2018”, assinalando ainda que o volume de comércio sino-português aumentou 7,6%.

Qu Weixi lembrou também o papel que Portugal, como membro da União Europeia, pode desempenhar como porta de entrada dos produtos chineses no mercado europeu e ainda o apoio de Portugal à proposta da China ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e da China à ideia de Portugal de aposta na economia azul”.

Uma diplomacia económica de apoio mútuo que Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro de Portugal, sublinhou na sua intervenção, apontando dois pontos centrais na agenda comum: defesa do multilateralismo e combate ao isolacionismo. No primeiro ponto, e lembrando a escalada na tensão entre Estados Unidos e China, Paulo Portas elegeu a Organização Mundial do Comércio como mesa privilegiada de negociações.

Sobre o isolacionismo, o ex-governante defendeu ser “o caminho para a pobreza e o subdesenvolvimento”, terminando a intervenção a destacar as medidas do governo chinês no sentido de abrir a sua economia a mais mercados, criando a oportunidade para a criação de joint-ventures entre empresas dos dois países.

A cooperação entre empresas chinesas e portuguesas para investimentos em África e na América Latina foi uma das vantagens assinaladas por Luís Castro Henriques. Para o presidente da AICEP, é uma grande vantagem para as empresas portuguesas poderem contar com grandes empresas chinesas em parcerias focadas em mercados estrangeiros.

Para além da captação de investimento industrial chinês para Portugal, nomeadamente na área da mobilidade elétrica, Castro Henriques evidenciou ainda as novas tendências de consumo na China fruto de um crescimento do poder de compra de uma classe média algo que, na sua opinião, representam vantagens para as empresas portuguesas.

“A alteração de padrão de consumo na China é particularmente favorável às exportações portuguesas. Cada vez mais, os consumidores chineses procuram produtos de alta qualidade e de nicho. Para um país como Portugal atacar um mercado de 1,3 mil milhões de habitantes é sempre complicado enquanto trabalhar nichos é muito melhor, mais fácil e de maior valor acrescentado”, firmou Castro Henriques. Outra janela de oportunidade é o e-commerce que, defendeu, “pode até ser aproveitada pelas PME na entrada em nichos muito específicos”.

“Estamos convencidos que este novo padrão de consumo na China e também a perceção de qualidade da produção portuguesa, mesmo até nível industrial, serão uma vantagem que deve ser aproveitada nos próximos anos”, afirmou, revelando que “Portugal exporta cerca de meio bilião de euros para a China mas, segundo a estatística chinesa, que mede o ponto de origem, na prática exportamos cerca de três vezes mais através de cadeias de valor complexas que acabam na China”.

Para além das relações económicas, também a nível cultural ficaram notas positivas neste encontro que termina amanhã. “Em 1999, havia 28 escolas em Macau onde o Português era ensinado. Atualmente existem 45”, avançou Manuel Manaças Ferreira, do secretariado dos Assuntos Sociais e Culturais de Macau.

A Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) e a forma bem-sucedida como decorreu o processo de transição para a China foi referida várias vezes, sendo evidenciado o papel que a região pode desempenhar no aprofundar das relações entre os dois países, seja a nível interno, seja em países terceiros como destacou Paulo Figueiredo do Portugal Macau Link.

Fonte: Plataforma

Partilhar artigo

Facebook
Twitter

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Outros Artigos