Literaturas de Macau Pós-1999 abriu programa comemorativo da Fundação Oriente

Histórias, curiosidades e leituras integraram a primeira actividade do Programa Macau 20 Anos da Fundação Oriente. 

“Literaturas de Macau Pós-1999” foi a primeira das sete actividades do Programa Macau 20 Anos, a decorrer até 19 de Dezembro, na Fundação Oriente. A iniciativa celebra os 20 anos da Transferência da Administração de Macau para a China e decorre até 19 de Dezembro. Para além de jornadas literárias, integra sessões de cinema, espectáculos musicais, conferências e mesas redondas com personalidades “que dão a conhecer a sua vivência, experiência e conhecimento do território”.

A sessão de abertura, “Leituras de Macau Pós-1999”, organizada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, decorreu no Museu da Fundação Oriente, em Lisboa, na passada semana.

Seis convidados presentearam os convidados com histórias e testemunhos do que é ser-se português em Macau. Pelo meio, as intervenções foram entre cortadas com a leitura de fragmentos de prosa representativos das diversas literaturas de Macau, em português, chinês e inglês.

Na primeira mesa, esteve Ana Paula Laborinho no papel de moderadora e Carlos Morais José e Fernanda Dias como oradores. O tema proposto foi “Macau: visões que nos habitam”. Na segunda parte, intitulado “Macau: entre crítica e criação”, Fernanda Gil Costa esteve como moderadora e foi acompanhada por Gustavo Infante e Jorge Arrimar.

Fernanda Dias é escritora e reside em Macau desde 1986. Ao longo da sua vida, já publicou obras de poesia, ficção e tradução. A escritora leu contos da obra “Amores do Céu e da Terra, Contos de Macau” e contou histórias e curiosidades que aconteceram durante o processo de recriação da escrita, de chinês para português.

A obra é composta por treze contos e retrata episódios da vida de Macau nos anos 40 e 50, então publicadas em chinês, pela jornalista que usa o nome literária Ling Ling. Fera Fátima, prostituta, Kwóng-Sou, florista, e A-Tao, a flor do pessegueiro, são algumas das personagens, todas fictícias mas todas macaenses, contextualizadas na realidade cultural do território, nomeadamente pela música, moda, cinema, espaços de convívio, lugares diurnos e nocturnos e culinária.

Ter ou não ter …Estatuto

Também na mesa esteve Carlos Morais José, jornalista, publicitário e editor. Vive em Macau desde 1990 e atualmente é o director do Jornal Hoje Macau. Por entre as várias obras publicadas sobre Macau, destacam-se:  Macau- O Livro dos nomes (2010); Visitações (2013); e O Arquivo das Confissões (2016).

Para este escritor, ser ou não ser reconhecido como escritor macaense, é importante. Morais José reside há 29 anos em Macau. A escritora Fernanda Dias, há 33. Ambos escrevem obras sobre Macau, sobre o povo macaense, mas não lhes é reconhecido o estatuto de escritor macaense. A eles, juntam-se nomes sonantes como Alberto Estima de Oliveira e José Silveira Machado. “Vivermos em Macau todos estes anos, estarmos inseridos na sociedade, na cultura, termos um papel activo no país e escrever sobre Macau e os macaenses, não é suficiente…Temos a perfeita consciência que será um milagre sermos escritores macaenses algum dia”.

Um dos seus textos de Morais José, publicado na Coluna da Saudade do Jornal Hoje Macau, em 1993, intitulado “As Pedras”, foi lido na sessão.“É uma viagem fascinante percorrer-lhe os vales, as grutas, os desfiladeiros e caminhos secretos. Poucos se aventuraram a tão tremenda expedição. Talvez seja um mundo do qual não vale a pena voltar. Um universo de inexcedível beleza. (…)

Entre os oradores estiveram ainda Gustavo Infante, investigador, nos últimos anos dedicado a pesquisas na área das literaturas de Macau, literatura chinesa em português e relações entre a literatura e a política nos países de língua portuguesa; e Jorge Arrimar, nascido em Angola, a viver em Macau desde 1985, autor de alguns livros que retratam a região e o seu povo, entre les, “Fonte de Lilau”, edição Livros do Oriente (1990); “Antologia dos Poetas de Macau” (1998); “De Longe a China” (1996).

Gustavo Infante e Jorge Arrimar partilham a opinião de que embora hoje a língua e a expressão em Macau sejam diversificadas, o português continua a ser um pilar na cultura macaense.

“O português foi a língua de comércio em toda a Ásia desde os meados do século XVI até princípios do século XIX. Macau, como feitoria portuguesa na Ásia, viu perder a importância da língua portuguesa como língua franca de comércio quando esta passou a ser inglesa. Porém, a língua portuguesa perdurou no seio da comunidade de luso-descendentes e hoje é a língua da História e da Cultura, das trocas políticas, económicas, científicas. E ainda e principalmente, dos códigos de Direito. É a língua do Poder e da Administração Local de Macau”, concretizou Jorge Arrimar.

Leccionado em escolas primárias e secundárias, o português aproxima-se e alia-se hoje, ao cantonense ou cantonês, como língua de socialização em Macau. “Para cerca de um milhão de pessoas, o cantonense continua a ser a língua materna, de aprendizagem e tradição”, explicou Gustavo Infante. Contudo, o mandarim e o inglês são as duas línguas francas do território. O inglês é considerada a língua “Business”e como tal ensinada na maioria das instituições do ensino superior.

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